Crescimento do turismo religioso do Brasil e a romaria de Nossa Senhora d’Ajuda

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A igreja está localizada em uma pacata praça rodeada de casinhas históricas – Foto: arquivo

Uma pesquisa publicada pela Folha de São Paulo revela que 50% dos brasileiros são católicos, 31% são evangélicos e 10% revelam não ter religião. A fé do povo brasileiro se reflete nas centenas de templos e santuários espalhados pelo país, revelando todo o potencial do turismo religioso no Brasil.

Mais do que uma manifestação de fé, o turismo religioso é um segmento que movimenta a economia e faz circular a renda. Turistas brasileiros e estrangeiros circulam pelo país para conhecer os lugares considerados sagrados.

Neste post, você vai conhecer a história do turismo religioso do Brasil, seu potencial, sua força, como ele movimenta a economia e o que dizem as estatísticas. Ao final, vai conferir os destinos mais populares no país.

História do turismo religioso no Brasil

O Brasil é um país de território extenso, de grande diversidade cultural. Tão vasto quanto seu território e a mistura de culturas é a diversidade religiosa. Pessoas com crenças afro-brasileiras, orientais, protestantes, cristãs, evangélicas e pentecostais convivem, diariamente, em todos os espaços de nossa sociedade.

Romeiros de Eunápolis percorrendo o caminho de fé até o santuário de Nossa Senhora d’Ajuda – Foto: Arquivo

Entretanto, devido ao calendário de celebrações religiosas, milhares de pessoas deslocam-se pelo país em busca de templos, santuários e outras comemorações relacionadas ao exercício da fé.

Potencial do turismo religioso

Quando uma pessoa visita um santuário religioso, ela vive uma experiência ligada à fé e a espiritualidade. No entanto, o potencial dessa categoria de turismo vai além da sua relação com as religiões.

Ao visitar esses locais, os turistas acabam consumindo produtos e serviços, além de ter acesso a outros tipos de serviços e visitação. Roteiros gastronômicos, histórico-culturais, arquitetura diferenciada fazem parte desses passeios.

O turismo religioso também pode ser considerado como um modo de melhorar a infraestrutura e a qualidade de vida dos moradores dos locais visitados. Isso aconteceu no Largo de Roma, em Salvador, região onde está localizado o Santuário Santa Dulce dos Pobres e no Bairro do Brás em São Paulo, após a construção do Templo de Salomão — sede mundial da Igreja Universal.

Motivos da força do turismo religioso brasileiro

Diferentemente de outros países, o Brasil é um país marcado pela tolerância religiosidade. O roteiro de turismo religioso brasileiro contempla centenas de destinos e práticas voltadas aos mais diversos tipos de crenças — fatores que influenciam de maneira positiva na sustentabilidade desse ramo do turismo.

Além da própria fé, o que move o turismo religioso são as festividades, as regiões na qual os santuários se localizam e até mesmo a arquitetura. Os complexos apresentam construções impressionantes, como o Templo de Salomão, com 55 metros de altura ou as igrejas de Minas Gerais e Bahia, revestidas por ouro.

Antes de programar o passeio, é importante estudar sobre a região e descobrir a melhor época para viajar. Cada local tem seu próprio calendário de comemorações, o que pode ser bom ou ruim — dependendo do tipo de passeio que o turista está buscando.

Movimentação da economia

O turismo religioso no Brasil movimenta a economia em vários sentidos. Primeiro que os turistas precisam se locomover até os santuários, e podem fazer isso de modo particular, por meio de agências de turismo (especializadas em turismo religioso ou que vendam pacotes no geral), grupos de igreja ou excursionistas.

Imagem de Nossa Senhora d’Ajuda – Foto: Arquivo

Dependendo da quantidade de dias, também precisam de hospedagem — desde as mais simples, até as mais sofisticadas, em hotéis de melhor categoria ou até mesmo resorts. Isso porque alguns santuários estão localizados próximos a regiões badaladas, como Nova Trento, que fica próximo ao litoral de Santa Catarina.

Com isso, também impactam no consumo de restaurantes, lanchonetes, na compra de artesanatos, presentes e outras lembranças. Também podem expandir a viagem para outros locais. É o caso das cidades do interior de Minas Gerais, um refúgio repleto de igrejas e com bastante força no turismo rural, esportes radicais e roteiro de cachoeiras.

Dados e estatísticas

O turismo religioso no Brasil é uma atividade relevante para economia, despertando o interesse de dezenas de pesquisadores e jornalistas pelo país. Por esse motivo, há um bom volume de dados publicados sobre o tema:

Matéria publicada pelo Estado de Minas apresenta dados do IBGE que expressam um crescimento de mais de 60% no número de evangélicos adeptos ao turismo religioso, uma prática que até então era popular entre os católicos;

A mesma reportagem revela que em 2018 o turismo faturou R$ 15 milhões de reais com a venda de pacotes turísticos para destino religioso;

Cerca de 18 milhões de viagens são feitas todos os anos aos mais de 300 destinos religiosos do Brasil;

Há 185 comemorações inscritas no Calendário Nacional de eventos do Brasil;

Uma publicação do G1 revela que, anualmente, cerca de 5 milhões de turistas vem à Bahia para a prática do turismo religioso.

Santuário de Nossa Senhora d’Ajuda

Não tem como falar sobre o turismo religioso no Brasil sem falar de Nossa Senhora d’Ajuda, no Arraial do mesmo nome em Porto Seguro que o mais antigo santuário católico do Brasil. A igreja está localizada em uma pacata praça rodeada de casinhas históricas que, hoje, são ocupadas por lojas, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais voltados para os turistas e romeiros de várias localidades que visitam o local. Toda essa parte central é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan.

Fachada do santuário

Quem vê o santuário pode pensar que se trata de uma construção muito simples, mas o fato é que ela evoluiu bastante da sua forma original. Tudo começou no ano de 1549, quando chegaram às terras brasileiras, na região que é conhecida como a Costa do Descobrimento, três naus chamadas Conceição, Salvador e Ajuda. Os nomes seriam, posteriormente, adotados por cidades baianas e suas primeiras igrejas.

Nessa viagem, vieram, junto à comitiva de Tomé de Souza, os cinco primeiros jesuítas a desembarcar em nosso território. Eles foram os responsáveis por erguer a capela que contava apenas com um altar móvel, um crucifixo e a imagem de Nossa Senhora trazidos de Portugal. Os móveis e objetos eram cobertos por folhas de palmeiras. Somente em 1722 surgiu a estrutura atual, erguida com pedra e cal. Embora muitas reformas tenham sido feitas ao longo dos anos, o santuário conserva até hoje o antigo altar e a milagrosa imagem de Nossa Senhora d’Ajuda.

Fatos que marcaram a história

Existem diferentes versões para o milagre da água atribuído à santa. No início do século XVI, o famoso jesuíta José de Anchieta escreveu sobre o “sonoro brando sussurro da água que milagrosamente jorrou de uma fonte ao pé de uma frondosa árvore, quando o Francisco Pires celebrava ali o santo sacrifício da missa”.

Já o padre Simão de Vasconcelos narrou que “um lenhador, habitante de um rancho calmoso à aureola da costa, subindo certo dia o ápice da montanha, de repente topou surpreso em um calhau; era a milagrosa santinha”. Por fim, também é dito que no alto da encosta morava um fazendeiro que não gostava de ver passar pelas suas terras aqueles religiosos, que iam e viam carregando a água. Um dia, não suportando mais a invasão, determinou a proibição dessa passagem. Com isso, os fiéis passaram a rezar suplicando pelo milagre de uma fonte de água para seu trabalho e sua sede, o que teria sido atendido em plena hora da missa. O fazendeiro, arrependido, resignou-se à religião cristã e passou a comungar com os fiéis.

Programação do santuário

Fato é que o local se tornou um ponto de peregrinação, tradicionalmente sendo alcançado a pé ou a cavalo por pessoas vindas de outras cidades baianas, de Minas Gerais e do Espírito Santo. A romaria ainda é um importante evento para os religiosos nos dias atuais, tendo início no dia 6 e culminando na grande Festa de Nossa Senhora d’Ajuda em 15 de agosto.

O evento atrai pessoas de várias localidades do Brasil e chega a causar congestionamento na travessia de balsa entre Porto Seguro e Arraial d’Ajuda. Por isso, é bom se programar caso o objetivo seja visitar as praias da região nessa época. Quanto à igreja, ela fica aberta o dia inteiro e conta com eventos diversos ao longo do ano.

Interior da singela igreja

Interior da igreja – Foto: Samuel Lima

O interior é bem simples, sem pinturas na parede, com piso de pedra e bancos antigos de madeira. O destaque fica para o altar com as imagens religiosas. Já na sala dos ex-votos, vários objetos servem como testemunha das inúmeras graças alcançadas pelos fiéis que visitaram o local e fizeram as suas promessas. A devoção também aparece do lado de fora, principalmente na parte de trás do santuário. Ali os visitantes amarram as famosas fitinhas coloridas que podem ser compradas de vendedores ambulantes, nas lojas de artesanato e outros estabelecimentos.

Fitas de santos no mirante

Essas fitas são usadas para fazer um pedido ou agradecimento. Diz a tradição que elas tiverem sua origem no costume de utilizar tiras das roupas de santos para ter sorte ou proteção. Com o passar do tempo, com os tecidos ficando cada vez mais raros, passou-se a utilizar fitas coloridas, que eram produzidas artesanalmente. O correto seria usá-la no pulso esquerdo com duas voltas e três nós, cada um deles correspondendo a um pedido feito em silêncio. As requisições seriam realizadas com o rompimento natural, tempos depois. Outra regra é que elas deveriam ser recebidas como um presente e não compradas.

Mas, o passar do tempo e a popularização mudou tudo e, atualmente, o apetrecho é fabricado industrialmente com outros materiais e colocado em todo lugar. No Santuário de Nossa Senhora d’Ajuda, elas tomam todo o guarda-corpo do mirante com vista para o oceano, um ótimo ponto para ver a paisagem da região, o encontro do rio com o mar e o nascer do sol e da lua.

Escadaria da fonte

Vale a pena pegar a escadaria da fonte para cortar caminho até a rua de baixo. São duas opções, uma com degraus mais altos e descida direta, e outra que faz uma curva e é menos inclinada. Ambas dão acesso ao mesmo local, onde uma imagem da santa marca o local de visita para pedidos e agradecimentos.

Fonte de Nossa Senhora d’Ajuda

A Fonte de Nossa Senhora d’Ajuda faz parte do santuário e tem grande valor histórico e simbólico – Foto: Arquivo

A Fonte de Nossa Senhora d’Ajuda faz parte do santuário e tem grande valor histórico e simbólico. Embora a estrutura tenha sido erguida entre 1929 e 1930, fiéis já vinham de longe em busca dos milagres e curas atribuídas às águas desde a época da construção da igreja. As peregrinações religiosas se mantêm até dias atuais. Além dos milhares de romeiros, os turistas também aproveitam para tomar um banho nas águas, já que existe a lenda de que isso garante a sua volta à cidade.

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