*CARLOS FERREIRA MARTINS – A CPI da covid no Senado mostra a cada dia, um despreparo do governo e de sua tropa de choque maior do que se supunha. O que a CPI já mostrou é que tem crime de responsabilidade de sobra para o impeachment. Mas está claro que isso não acontecerá. E por quê? Porque ele ainda tem apoio e este vai muito além dos votantes fiéis para os quais dirige suas pantomimas.
Como está demonstrando a pauta do Congresso, as “boiadas” não são apenas do ministro da destruição ambiental, mas de um conjunto de interesses empresariais que, dadas as circunstâncias das eleições de 2018, estão hoje super-representados no Congresso.
A Câmara já aprovou, e vai ao Senado, projeto de lei que dispensa de licenciamento ambiental dezenas de atividades, inclusive obras de infraestrutura, e já está sendo chamado de “a mãe de todas as boiadas”. Isso depois das mentiras na cúpula do clima e dos flertes com John Kerry, o czar do meio ambiente de Biden. Se foi aprovado é porque o poderoso setor Agro, aquele que é Tec e é Pop, está contente.
Além dos escandalosos lucros dos bancos e da subida do varejo, uma olhada na lista da Forbes mostra que o setor da saúde privada vai de vento em popa, com seus milionários multiplicando seu patrimônio em até cinco vezes.
Não tem motivos para estar insatisfeitos, mas sempre querem mais. Por isso o Congresso está aprovando a nova regulamentação do setor, que representará o golpe final no SUS. Hoje já ocorre, mas ficará mais fácil: procedimentos caros vão para o SUS, os lucrativos para os planos privados. Grande negócio.
O oficialato militar pendurado no aparelho de Estado também não tem razão para estar descontente. Depois de todos os aumentos e da previdência superespecial agora poderão receber até duas vezes o teto salarial constitucional.
Os donos da grana estão muito satisfeitos com Bolsonaro, os deputados e senadores também e os militares também. Enquanto houver patrimônio para privatizar e população para explorar Bolsonaro manterá esses apoios.
Quem não está satisfeita é a maioria da população, mas como dizem que perguntou, certa vez, Stalin a respeito do Papa, quantas divisões ela tem?
*Carlos Ferreira Martins é professor titular do IAU USP São Carlos