Óbvio que não. Isso sugere que falar besteira sem a menor noção de Geografia (meio estúpida demais, até pra ele) foi ensaiada, já prevendo a repercussão. Os bots estimulam uns poucos minions orgânicos a externarem sua frustração, os “anti” compilam e compartilham loucamente pra tirar sarro (não me admiraria até se algum desses instagrams ou twitters tipo @jairarrependido fossem controlados por eles, porque surgiram mto rápido) e pronto, você tem um movimento “orgânico” — encerrado, claro, por ele voltando atrás no fim do dia em suas redes sociais.
E o que o presidente ganharia com isso, além de parecer um paspalhão? Bastante coisa, na verdade. A pista pra entender, óbvio, vem do modelo que ele tem copiado até na bio do twitter, Donald Trump.
Trump vive falando idiotices em entrevistas, de propósito ou por burrice mesmo, e depois desmente em suas redes sociais, dizendo que a imprensa está contra ele, fazendo fake news alarmista. O efeito prático disso é que, de fato, a imprensa publica um monte de manchetes alarmistas que não se concretizam. Pra sua base (que olha a coincidência, são brancos evangélicos), o efeito é claro: não se pode confiar na imprensa, só na palavra do líder.
Com isso, o Boroloro paga de democrata que ouve a voz do povo, reforça sua mensagem/rede, e de quebra desacredita a imprensa tradicional. Podem reparar no Facebook ou twitter, qualquer notícia negativa a ele nos comentários já tem gente dizendo “não acreditem na mídia corrupta, só nas redes sociais do Capitão”. Bom, ele mesmo já diz isso no Twitter. A técnica é a mesma dos cultos: toda informação de fora é “do demônio”, só vale o que diz o guru.
Fora que no dia seguinte já vai rolar uma nova patacoada, e ninguém mais vai lembrar da anterior.
E ai o Talkey ainda ganha de brinde o fato de ter feito um aceno “sincero” e poder voltar atrás sem dano político com a desculpa de “puxa, a repercussão popular foi muito ruim, fiquei de mãos atadas”. Parte da imprensa ingênua colabora ainda mais, manchetando ao invés da notícia real (“Bolsonaro volta atrás na indicação de corrupto”).
Pode parecer uma tática imbecil (e é), mas funciona. Nos EUA, nenhuma pessoa razoável acredita mais em uma palavra do que Trump diz, mas o número de republicanos (principalmente evangélicos) membros do “culto” é suficiente para mantê-lo com uma popularidade razoável, e estão completamente imunizados a qualquer denúncia que surgir (seja investigação de obstrução de justiça e fraude eleitoral do FBI, seja ele mesmo admitindo na justiça que pagou pra uma atriz pornô esconder o caso que teve enquanto a mulher estava grávida: não importa, é “fake news”).
Então é preciso atenção redobrada nessas movimentações “espontâneas” que surgem, principalmente as que parecem irresistíveis demais pra não compartilhar. Nosso asco do Biroliro é quase tão fácil de manipular quanto o antipetismo minion.
Mas essa é uma questão, principalmente, de imprensa. Essas trapalhadas aparentes pra voltar atrás logo depois vão acontecer direto agora. Se os jornais não se ligarem no jogo a tempo, vão ser dragados no ralo das fake news e se tornar meros setoristas do twitter do Jair Talkey