LUIZ FLÁVIO GOMES – Foram os cruéis e medievais colonizadores (espanhóis, portugueses, franceses, holandeses) que implantaram a roubocracia na América Latina (roubocracia = governo ou poder regido pela roubalheira).
Para cá eles vieram para roubar, estuprar, escravizar, queimar, aniquilar, extorquir, corromper, esquartejar, expropriar, espoliar, se apropriar, se enriquecer, devastar e destruir.
Aqui a violência política (dos donos do poder) sempre foi uma realidade, porque irmã siamesa da roubocracia. A violência é empregada pelos donos corruptos do poder para manter as brutais desigualdades assim como para garantir a impunidade deles. Em algumas vezes a violência é o meio de execução da própria roubalheira.
Nunca o Brasil, consequentemente, foi uma verdadeira democracia (governo eleito pelo povo e para o povo). As eleições e até mesmo os eleitos sempre foram comprados pelos donos do poder. Os políticos corruptos sempre se venderam, ou melhor, se alugaram (cada causa tem um preço). A nossa é, por conseguinte, uma democracia venal (simulacro de democracia).
De outro lado, aqui não se governa para o povo (salvo raras exceções), sim, para os ladrões que dominam a nação. Ora de esquerda, ora de centro, ora de direita, mas ladrões.
O roubo e a violência política são exercidos pelos mesmos grupos dominantes. Os atuais donos corruptos do poder (de esquerda, de centro ou de direita) são continuação dos primeiros colonizadores. Mesma tradição medieval perversa, regida pela ganância extrativista e espoliadora.
Estão no poder para roubar, espoliar, sugar, parasitar, matar e eliminar quem se coloca como obstáculo aos seus desonestos propósitos.
Marielle criticava o poder bárbaro dos milicianos no Rio de Janeiro. Fachin, cuja família está sendo ameaçada, é o ministro relator da Lava Jato (que está investigando os poderosos corruptos de todas as ideologias).
Os donos corruptos e violentos do poder matam e ameaçam pessoas. A violência política, nesse caso, é empregada para a preservação do sistema corrupto (leia-se, da roubocracia), que só se detém quando uma força superior promove o império da lei. A Lava Jato não pode parar.
A nova direita radical (NDR), usando os mesmos métodos populistas autoritários do esquerdismo revolucionário (revolução bolivariana, cidadã ou comunitária – Venezuela, Equador e Bolívia), aqui quer implantar um modelo regressivo de sociedade totalmente incivilizada (leia-se, uma sociedade civil totalmente incivil, onde prevaleça a guerra de todos contra todos, como afirmava Hobbes).
Nem roubocracia (governos ou poderes regidos pela roubalheira) nem sociedades incivilizadas, reinadas pelo “estado de natureza” (ou seja, pela violência política bruta). As cabeças que pensam devem repudiá-las, porque destrutivas das nações.
No princípio do século XX a democracia liberal foi duramente atacada por duas formas violentas de negação da própria democracia: pelo comunismo e pelo fascismo. Ambos, desde fora (do exterior), a derrotaram por um longo período.
No Brasil a (sonhada) democracia liberal sempre foi aniquilada desde dentro, ou seja, por meio das eleições. Os donos corruptos e violentos do poder sempre manipularam e compraram muitos eleitores e, sobretudo, os eleitos, os parlamentares, os governantes. A nossa é (por natureza e tradição) uma democracia venal.
No século XXI os novos bombardeios contra a enferma democracia liberal vêm do populismo autoritário (de esquerda ou da nova direita radical), que está conduzindo vários países para um tipo de ditadura democrática (ditadura eleita pelo povo para destruir o próprio povo). Autoflagelação inconcebível.
Quem ainda tem dúvida sobre isso é só passar os olhos nas Filipinas, onde o ditador Rodrigo Duterte usa seu poder para matar dezenas de pessoas diariamente. E tudo isso com amplo apoio popular! Ele mesmo se encarrega de alguns assassinatos.
Bertold Brecht (1898-1956) dizia que “a cadela do fascismo [leia-se, hoje, do populismo autoritário] está sempre no cio, pronta para parir filhotes”.
No Brasil de 2018 o protagonismo da violência política (isto é, do ódio, da alterofagia, que é a destruição do outro) já é um filhote parido. A guerra já começou. Milicianos, policiais, forças paramilitares, militantes civis armados e odiosos e guerrilhas campais e na internet. É só ir computando os cadáveres, a partir de Marielle, por exemplo!
Publicado originalmente no Estadão:https://goo.gl/6tCSzx