No campeonato do tempo o Estádio Itamarzão perdeu a disputa e o time do descaso ganhou. Palco de importantes partidas do Eunápolis Esporte Clube, o Estádio Itamar Seixas, localizado no centro de Eunápolis, ao final da Rua dos Fundadores, antiga Rua do Campo, hoje é só um monte de ruínas e toda a sua estrutura está caindo aos pedaços.
No “país do futebol”, um estádio é como um templo. Chutar uma estrutura assim para o escanteio é quase um pecado mortal. Do jeito que está abandonado, não vai ser surpresa se daqui a pouco alguém noticiar que levaram até o gramado.
PROBLEMA ANTIGO
Há muitos anos o Itamarzão sofre com o abandono por parte dos poderes públicos. Nesta segunda-feira (26), ao lado de um ex-diretor e desportista, Urbino Brito, a redação do blog esteve no local para ver de perto como se encontra a primeira praça esportiva da cidade.
O nome Itamarzão veio em homenagem a um dos moradores, segundo Urbino. Enquanto percorre o gramado, ele recorda que “tudo começou quando Itamar Pereira Seixas conseguiu que Ivan Moura doasse o terreno do campinho de várzea, aonde as pessoas já jogavam bola, e assim foi feito o primeiro cercado de pau a pique”.
O desportista e fotógrafo, que veio morar em Eunápolis em 1978, ainda alcançou os muros sendo erguidos em volta do campinho. Em 1981 ele foi eleito diretor do Departamento Técnico da Liga de Futebol de Eunápolis, cujo presidente era o professor Jota Cruz, segundo seu relato. Neste cargo ficou até 1982.
Em seguida assumiu a diretoria social da Liga, já na gestão de Mário Nunes, e lembra que nesta época “as arquibancadas ficavam totalmente lotadas e as pessoas que não conseguiam entrar se aglomeravam em volta do alambrando para acompanhar o Tigrão do Extremo Sul”, que é o apelido do time da casa que chegou a série C do Campeonato Baiano.
FORA DE CAMPO
Atualmente, Eunápolis não possui nenhuma equipe na disputa de torneios profissionais organizados pela Federação Baiana de Futebol (FBF) a despeito de todo o empenho do atual presidente do Eunápolis Esporte Clube, Luciano Santos. O motivo seria um débito junto à Confederação Brasileira de Futebol, que organiza os jogos dessa natureza em todo o país.
“Eu fico triste de ver a situação de total abandono e o que me chama a atenção é tentar descobrir a quem interessa a derrocada do Itamarzão. Os muros vão cair e a quem interessa que tudo isso se acabe?” Pergunta Urbino Brito.
Uma pergunta sem resposta que ecoa pelas linhas de fundo do gramado do velho estádio carcomido pelo abandono.
As arquibancadas já não ouvem os gritos das torcidas alucinadas; a tribuna de honra está cedendo de tanta vergonha. Os vestiários estão vazios. O craque do tempo chutou pra fora os atletas que aqui trocavam seus uniformes e viviam grandes sonhos.
JOGO SUJO
Vítima de uma partida sem fair play, o descaso que atinge o Estádio Itamarzão abala o futebol eunapolitano. Nenhum setor assume a responsabilidade que deveria ter e isso não é recente.
O estádio hoje é um como um monte de entulho no meio da rua.
Alguns defendem que deveria ser transformado em uma área de lazer, ou mesmo cortado ao meio, dando lugar a uma grande avenida, como prolongamento da atual Rua dos Fundadores, ligando a Passarela do Love à Avenida Presidente Kenneky, com o objetivo de desafogar o trânsito do centro da cidade.
TORCIDA DE SONHOS
Ao caminhar pelo gravado revivendo essas memórias, Urbino diz que tem saudades dos tempos áureos “e um enorme sentimento de revolta ao ver um importante patrimônio dos desportistas eunapolitanos transformando em ruínas”. Lamenta.
Quantos craques, no passado, tremeram ao deixar o túnel e cegar-se diante do Tigrão do Extremo Sul? Quantos jovens dariam a vida para um dia viver a glória do nome gritado das arquibancadas ou do gramado depois de um gol?
“Matar o Estádio Itamarzão é uma das maiores violências contra os desportistas e contra a história do futebol da cidade”, desabafa Urbino Brito, que entra em campo sozinho, para reivindicar a recuperação do Itamarzão, como na canção imortalizada por Moacyr Franco:
“Sua ilusão entra em campo no estádio vazio/ Uma torcida de sonhos aplaude talvez/ O velho atleta recorda as jogadas felizes/ Mata a saudade no peito driblando a emoção”…