Em convenção nacional realizada nesta terça-feira (19), o PMDB aprovou resolução para voltar a se chamar apenas MDB, sigla utilizada entre 1966 e 1979, durante o bipartidarismo na ditadura militar.
Desgastada pela crise política e por graves denúncias contra sua cúpula, a legenda tenta colar sua imagem a lideranças do passado, que fizeram história na luta contra o regime autoritário, como Ulysses Guimarães.
“Não é volta para o passado, é um passo gigantesco para o futuro”, disse o presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), ele mesmo um dos investigados na Operação Lava Jato.
“O MDB foi retirado da política por força da ditadura militar. Retorna agora mais pujante”, acrescentou. A mudança no nome da sigla precisa ser confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Depois de ter cancelado sua ida, o presidente Michel Temer compareceu ao evento. Ele foi recebido no palco por um pai de santo chamado Uzêda, com um ramo de arruda.
Pai Uzêda, como é chamado, esteve presente à cerimônia de posse de Joaquim Barbosa como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2012 e escreveu uma carta a Dilma, em 2015, pedindo que ela tomasse cuidado com o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ).
Com o seu nome gritado por representantes da juventude peemedebista, Temer ironizou sua baixa popularidade. “Vocês que viram que eu sei ganhar aplausos”, disse, rindo, para a plateia.
ARQUIVOS ELIMINADOS DOS COMPUTADORES
O presidente defendeu sua gestão, que, segundo ele, tem caráter reformista. “Todas as reformas fundamentais estão sendo feitas pelo PMDB. Temos a coragem de ser um governo reformista, coisa que ninguém [promoveu]. Não foi fácil pegar o governo como peguei, com uma oposição muito radical. Normalmente você tem um tempo de transição entre governos, mas nós não. Quando cheguei ao Palácio [do Planalto], a única preparação foi uma mocinha na recepção. Todos os arquivos tinham sido eliminados dos computadores”, declarou.
Em seu discurso, Romero Jucá disse que o futuro do país pelo MDB, assim como o passado recente do país. “Com Itamar Franco, FHC, Lula e Dilma, garantimos a governabilidade. Entramos, então, na maior crise de todos os tempos. Não fugimos à luta. Com Temer, iniciamos a recuperação do país. Damos um passo para o futuro, com a retomada do nosso nome, MDB. Seguimos na luta pelo direito à liberdade econômica e à prosperidade”, afirmou.
Entre outras mudanças aprovadas pelos peemedebistas está a criação de um segmento evangélico e de outro voltado para a pauta socioambiental. A mudança de nome, com a exclusão do “P” de partido, tem sido adotada por várias legendas para fugir do desgaste político e eleitoral. O PTN virou Podemos; o PTdoB, Avante. Já o PSDC se apresenta como Democracia Cristã, e o PEN, como Patriota.
MAIOR BANCADA
Com 62 deputados e 22 senadores, o PMDB possui a maior bancada no Congresso. A sigla nunca chegou à presidência por meio de eleição direta. No entanto, já está em sua terceira presidência do país.
O primeiro presidente pelo partido foi José Sarney, em 1985, que assumiu a Presidência após a morte de Tancredo Neves. Em 1992, Itamar Franco, que havia se filiado meses antes, assumiu a Presidência após o impeachment do então presidente Fernando Collor. Situação semelhante ocorreu em 2016, com a chegada de Michel Temer à Presidência em meio ao impeachment de Dilma.
De acordo com levantamento exclusivo da Revista Congresso em Foco, o PMDB é o segundo partido em número de parlamentares investigados no Supremo Tribunal Federal, atrás apenas do PP, que tem 35 parlamentares sob suspeita. O PMDB aparece ao lado do PT, com 32 congressistas com acusações criminais.