FÓRUM ESTADÃO – A corrupção na Itália, 25 anos depois de deflagrada a Operação Mãos Limpas, voltou para o mesmo patamar em que se encontrava antes das investigações, segundo um dos integrantes da força-tarefa do país. O desfecho da operação, que inspirou a Lava Jato, faz soar um alerta.
No Brasil, protagonistas da investigação defendem “ir além” dos processos judiciais, avisam que a Lava Jato não vai “salvar” o País e cobram a aprovação de reformas para combater desvios.
As conclusões foram apresentadas na terça, 24, no Fórum Estadão Mãos Limpas e Lava Jato, promovido pelo JORNAL ESTADO, em parceria com o Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP).
A experiência que os italianos compartilharam não foi das mais otimistas, mas Gherardo Colombo, juiz aposentado e promotor que conduziu as investigações, espera que possa contribuir para o Brasil.
Representando a força-tarefa da operação brasileira, que caminha para o quarto ano, o procurador Deltan Dallagnol deu o aviso: “Os italianos perderam a oportunidade de fazer reformas necessárias para diminuir a corrupção. Reformas políticas, estruturais, de educação”.
Colombo relatou que a Mãos Limpas encontrou um sistema “muito coeso”. “Não é que faltavam provas, é que o sistema de corrupção era muito forte a ponto de se proteger, de forma que hoje a corrupção na Itália é a mesma do que quando começou a Mãos Limpas.”
Em 13 anos, a operação italiana contabilizou mais de 4 mil envolvidos. Segundo o ex-investigador, dois fatores influenciaram para a corrupção continuar existindo no país. Primeiro, a reação da classe política, que mudou as leis para proteger investigados, diminuindo, por exemplo, o tempo de prescrição de crimes. Com isso, disse Colombo, 40% dos envolvidos nos inquéritos saíram impunes.
Outra “estratégia” da classe política, segundo Piercamillo Davigo, presidente da seção criminal da Corte de Cassação da Itália, foi o silêncio. “É o comportamento típico das associações criminosas: manter o silêncio para beneficiar seus protegidos”, disse Davigo. O segundo fator foi o descrédito da operação na opinião pública, de acordo com Colombo. “Essa nossa intervenção criava uma espécie de tensão social, é difícil manter o interesse muito elevado.”