Evitar o descarte irregular de lixo nas ruas e o acúmulo de entulhos em lotes vagos aparece como um dos maiores desafios diante da infestação do mosquito causador da dengue em Eunápolis. De acordo com o balanço do ano de 2016, realizado pela Secretaria Municipal de Saúde, 742 casos foram notificados para dengue; 60 para chikungunya e 361 para o zika. O município também registrou, no ano passado, dois casos de microcefalia. Felizmente, nenhuma morte.
O Bairro Juca Rosa, na zona norte da cidade, apresentou o maior número de infestação predial, seguido do Alecrim I, Centauro e Gusmão. O balanço do mês de janeiro deste ano já está fechado, de acordo com a diretora da Vigilância Epidemiológica, Kelly Rebouças, devendo ser divulgado em breve. “Mas nas quatro primeiras semanas do ano, os resultados já são bastante parecidos com aqueles de 2016”. Adiantou.
A secretaria de Infraestrutura da cidade, em seu primeiro mês de trabalho, ainda não calculou quantas toneladas de resíduos provenientes de deposição clandestinas são recolhidas das ruas da cidade. O lixo orgânico ou doméstico é retirado regularmente, na zona urbana e nos distritos, desde que acondicionado em sacos de plástico ou de papel e depositado fora de casa após as 17 horas, quando os carros da empresa de limpeza passam recolhendo.
Mesmo assim, basta uma volta pela cidade para perceber que o esforço é insuficiente. O trabalho de combate ao bota-fora não oferece resultados. Moradores jogam nas ruas todo tipo lixo e entulho. Entre os materiais descartados irregularmente estão resíduos de construção civil, móveis velhos, equipamentos eletrônicos defeituosos, pneus e outros capazes de acumular água e permitir a reprodução do Aedes aegypti – que, além da dengue, transmite o zika vírus e a febre chikungunya.
DENÚNCIAS
Denúncias de internautas de diversos bairros da cidade reforçam os riscos à saúde. No Bairro Edgard Trancoso, próximo ao centro da cidade, por exemplo, moradores reclamam de um bota-fora na esquina das Ruas Agnus Ribeiro e Geni Ribeiro.
Nessa área, os moradores dizem que embora seja feita a capina no local periodicamente, o lixo depositado fora do horário da coleta continua oferecendo riscos aos vizinhos. “Minha vizinha teve dengue e muitas pessoas da minha rua também passaram mal, diz a dona de casa Luana Gabriela da Silva”. Ela pondera, no entanto, que moradores que despejam entulho no lugar colaboram para o surgimento das doenças.
Na Rua Norte Sul, esquina com a Travessa Sucupira, um descarte de casca de cocos acumula água de chuva e torna o ambiente propício para a eclosão das larvas do mosquito. Os Bairros Centauro e Gusmão figuram entre os que apresentaram importante infestação do mosquito em 2016.
“A área está próxima a uma distribuidora de cerveja e tem inúmeros focos de mosquito”, conta o taxista João Antonio Pereira. A situação, de acordo com ele, permanece há mais de um ano. Na Rua Guarany, Bairro do Gusmão, na mesma área, a dona de casa Emília Pereira convive com a ameaça diariamente, já que mora ao lado de uma casa abandonada, com entulho que permanece amontoado no imóvel desativado.
Na entrada do Bairro Minas Gerais, o morador Antonio Pereira se queixa do descarte na Avenida Cristóvão Colombo, após o prédio da escola municipal. “A Avenida foi revitalizada, mas o lixo continua” conta ele, que reforça com um protesto. “O cidadão tem grande responsabilidade, tanto pela omissão quanto pela própria ação de jogar o lixo em locais que podem se tornar criadouros, e se sente desobrigado, porque não é cobrado pelos governos”.
COMBATE
A prática de deposição clandestina de resíduos é coibida, segundo o secretário de Infraestrutura, Pedro Bonomo, “através da Lei 692/2009, que regulamenta e proíbe o descarte de lixo de qualquer natureza em áreas não destinadas pelo poder público e fora do horário de coleta”. Além da notificação para correção da irregularidade, os infratores estão sujeitos, a partir da segunda advertência, à multas que variam de um a dez salários mínimos e ela é acumulativa.
Procurado pela reportagem do Radar 64, o diretor do departamento de fiscalização da secretaria de Infraestrutura, Adeildo Marques, explica que o recolhimento de entulho é feito por um setor específico do próprio departamento de limpeza pública, mediante solicitação do dono do material a ser descartado.
O servidor acrescentou que “o monitoramento dessas áreas é feito através de denúncias junto à ouvidoria do município, que fica no prédio do SAM (Serviço de Atendimento ao Munícipe), localizado no centro da cidade, na esquina da Rua Joana Angélica com Floriano Peixoto, ou através do próprio Departamento de Limpeza Pública, que quando realiza a coleta regular identifica os locais clandestinos e informa ao setor de fiscalização”.